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Empresa de construção civil composta só por mulheres é destaque na Bienal de Arquitetura de São Paulo
Focando na presença e possibilidade de mudança social da arquitetura no cotidiano das pessoas, a Bienal de Arquitetura de São Paulo chega a sua 12ª edição sob o tema Todo Dia. Entre os destaques da edição deste ano está a Concreto Rosa, empresa de construção civil composta apenas mulheres. “Os grandes nomes do mercado não estão interessados em fazer pequenos serviços. Eles querem ir na sua casa, quebrar sua parede e cobrar 3 ou 4 mil reais por isso. Nós oferecemos uma solução prática, porque os pequenos serviços precisam ser feitos”, explica a fundadora, Geisa Garibaldi, em entrevista à Casa Vogue.
Após finalizar um curso profissionalizante no Senai do Rio de Janeiro, Geisa percebeu a falta de incentivo às mulheres neste mercado de construção. “Muitas clientes entravam em contato com a gente por sermos mulheres e darmos essa sensação de segurança à elas. Não são raros os relatos das que passaram por assédio ou constrangimento na hora de contratar reforma e reparos domésticos”, conta ela. Desde 2015, a diversidade e a inovação formam os pilares da empresa, pioneira do ramo no Rio de Janeiro. “Hoje em dia isso também continua, mas vemos um movimento de apoio a uma empresa como a nossa, como uma forma de levante aos projetos encabeçados por mulheres, considerando as dificuldades que enfrentamos no mercado de trabalho.”
O convite para participar do evento, um dos mais importantes do país para discutir arquitetura, urbanismo e cidades, foi consequência do sucesso da Concreto Rosa. Geisa Garibaldi participou do talk de abertura da Bienal junto com os antropólogos Fraya Frehse e Hélio Menezes, e os arquitetos Marta Moreira e Andrés Jaque, com mediação dos curadores do evento, Charlotte Malterre-Barthes, Ciro Miguel e Vanessa Grossman. “Vemos este convite como um reflexo do nosso trabalho, da inclusão que promovemos e do desenvolvimento de um nicho até então não explorado pela construção civil tradicional”, explica ela. Segundo dados do IBGE, a presença de mulheres na construção civil aumentou 120% entre 2007 e 2018, registrando 239,2 mil trabalhadoras no ramo.
Além da conversa inicial, a Concreto Rosa também conta histórias por meio de uma instalação no espaço de convivência do Sesc 24 de Maio. O material em áudio, vídeo e fotografia conta um pouco sobre as funcionárias e clientes, e as experiências que as atravessam como mulheres, negras e/ou LGBTQ+ na sociedade. “Nossa participação muda o próprio cenário da Bienal. É um outro olhar sobre a arquitetura e a construção civil”, diz Geisa. “Quem pensa os nossos territórios anda de avião. É diferente da gente, que vem da baixada, da correria do dia a dia. As cidades também precisam ser construídas considerando o nosso ponto de vista.”
A Concreto Rosa oferece serviços de de elétrica, hidráulica, alvenaria, pintura, revestimento de azulejo, jardinagem, mudanças e reparos domésticos em geral. “As mulheres precisam atuar em diversas áreas, seja na política, na educação, na construção, na arquitetura…Eu particularmente acredito que ninguém vai chegar para nós e dar um projeto, simplesmente não vão. Então vamos fazendo nós mesmas. Quando uma de nós conseguir, ela vai chamar a outra, que vai chamar a outra e assim a gente amplia a nossa participação no mercado, nos fortalecendo”, finaliza ela.
Fonte: Metalica.com.br